Palavra de Eternidade
Palavra de Eternidade
(ʿÔLĀM)
Em Gênesis 21.33 temos o seguinte registro: “… Deus eterno”. Esta assertiva é oriundo do hebraico: אֵ֥ל עוֹלָֽם (ēl ʿôlām). A LXX traduziu esta expressão por: θεος αιωνιος (theos aiōnios). O Latim traduziu por: Dei aeterni.
O profeta Isaías se dirige a Deus como “o Deus Eterno”. – Is 40.28.
Salmo 90.2 afirma que: “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus”.
O conceito de Eterno e Eternidade é muito importante na Bíblia. Por quê? Porque sendo Deus, o Deus Eterno, por consequência, o que Jesus nos oferece é a vida Eterna.
O senso comum associa a palavra “eterna” como vinculada ao tempo, ou seja, algo que existe para sempre.
Precisamos discernir o que é eterno e o que é infinito. Este tem começo, mas não tem fim. Eterno não tem começo nem fim. Eterno é aquilo que nunca houve tempo em que não existia e para sempre existirá.
O autor de Hebreus exemplifica a afirmação acima quando afirma que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem – desde sempre, não tem começo -, e hoje, e eternamente.” (Hb 13.8). – g.n.
Portanto, o ETERNO, o Deus de Abrahão, não está qualificado na categoria de tempo. A evidência disso é que na língua grega o “tempo” que se marca no relógio é o “Chronos”, e nós utilizamos a figura de linguagem conhecida como onomatopeia para descrever o tempo do relógio, ou seja, o “tic-tac”, “tic-tac”, o tempo que cronometramos.
O tempo da eternidade nas Escrituras Sagradas é conhecida pelos gregos como AION.
AION é o tempo antes do tempo. É o tempo do tempo que não tinha tempo. É o tempo antes do bereshit (“no princípio”).
O Tempo do Tempo antes Tempo, isso é ʿÔLĀM (ETERNO).
Comparando Gn 1.1 com João 1.1, isto é, “no princípio criou Deus” e “no princípio era o Verbo”, surge a incógnita: no princípio do quê? No princípio do tempo. Do nosso tempo (Chronos). No princípio em que Deus Criou o TEMPO.
Antes de Deus criar o TEMPO, não existia TEMPO. Que existia então? O ʿÔLĀM (a ETERNIDADE).
Por isso que temos a resposta enigmática de Deus dada a Moises lá em Êx 3.14, dizendo “EU SOU”. Ou seja, Deus não tem nome, ELE É. Por que Deus não tem nome? Porque nome nós damos para às coisas que existem.
A ETERNIDADE nas ESCRITURAS não é algo relativo somente a tempo. Eternidade ou eterno na Bíblia Sagrada é aquilo que está fora da categoria de medida.
Logo, contemplamos que há duas ordens nas Escrituras. A ordem natural ou a ordem da criação, isto é, categoria de medida (Gn 1.1), e a ordem espiritual ou a ordem da eternidade, que não pode ser mensurado.
A apóstolo João exemplifica muito bem a ordem da eternidade em Ap 13.8: “o cordeiro que foi morto antes da fundação do mundo”. Como pode o Cordeiro de Deus ser morto antes da criação do Chronos? Jesus foi morto na ordem da eternidade e não na ordem da criação.
De acordo com Apocalipse 13.8, compreendemos que Deus se relaciona com a sua criação na ordem da Eternidade. Sendo Deus Espírito, é necessário que os seus adoradores o Adorem em espírito e em verdade. Quem adora a Deus em um lugar específico, o Adora na ordem natural.
Observe que a Bíblia Sagrada compara a intimidade conjugal a relação da Igreja com o Noivo. Na intimidade há uma relação tão estreita entre as duas pessoas que as duas se tornam apenas uma (Gn 2.24; 1 Co 7. 2-5; Ef. 5.21-32).
Os Rabinos afirmam que o livro mais espiritual da Tanakh, o que chamamos de Antigo Testamento, é o Livro de Cântico dos Cânticos. Este livro retrata a intimidade conjugal. Se até hoje você não se relacionou com o Eterno com gemidos, você não sabe o que é uma verdadeira relação com o seu criador.
Por que gememos quando estamos vivenciando aquele momento íntimo com a pessoa amada? Porque não há palavras que descrevam o que ambos estão sentindo.
É nesse nível de intimidade, ou melhor dizendo, é na ordem espiritual que Deus planejou desde a ETERNIDADE, a se relacionar com aqueles que clamam pelo seu nome (Rm 8.26).
Temos uma pessoa na Antiga Aliança que chegou nesse nível de adoração: Ana, mãe de Samuel (1 Sm 1). A oração é a experiência da ordem da eternidade.
Quanto mais palavras utilizamos em nossas orações a sós com Deus, maior a probabilidade de estarmos orando na ordem natural, nos aproximando da oração do fariseu, descrito por Jesus em Lucas 18.9-13.
Por que em nossas orações devemos utilizar menos palavras e mais gemidos? Porque quem fala domina a conversa. Observe que quando você fala com alguém, este fica em silêncio te ouvindo.
Portanto, no momento de oração, que possamos ouvir mais e falar menos.
OBS.: Este artigo é um resumo do vídeo postado em nosso Canal no Youtube com o mesmo título.
Bibliografia
Bíblia de Estudo Palavra-Chave Hebraico e Grego. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.
Bíblia Grega Septuaginta, 1935/79 Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart, Printed in Ggermany by Biblia-Druck.
Bíblia Hebraica Stuttgartensia, 1967/77 Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart. Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.
Bíblia Sacra Vulgatae Editionis, Sixti V Pontificis Maximi Iussu Recognita Et Clementis VIII Auctoritate Edita. Edizioni San Paolo, 1995.
CHAMPLIN, Russell Norman. Novo dicionário bíblico Champlin: ampliado e atualizado. São Paulo: Hagnos, 2018.
_____________________________. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia, vol. 02. São Paulo: Hagnos, 2021.
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